29 de julho de 2009

Em Casa - O Monstro



Chego de viagem desgastada.
Sento-me em meu corpo destruído.
Abri o livro na estante das não-lágrimas.
Devorei cada palavra, rasgadas na luz da minha presença.
Dissolvi significados mutilados, na carne literária da minha língua.
Incorporei interpretações perdidas dentro do vazio das minhas janelas.

Esperei…
Caldo de virgulas sem pontos finais, que me esmiúça em paginas abertas.
Toque trémulo que se alastra dentro das minhas letras sujas.

Devagar…
Disse a sombra nas exclamações gentis que descem em espiral na minha audição.
Mastigo lentamente as coisas penduradas na contra-capa da minha face.
Deixando nas bochechas apenas algumas lâminas desventradas da monstruosidade.
Subi pelos parágrafos a cima, tentando alcançar os pedaços de uma mão reluzente.

Aperto…
Folhas lambidas sem respostas, decompostas numa história perpetuadora.
Poisam em ventos viscerais. Transformados e apagados pelas linhas femininas do caos.
Abraço transcendido no ventre criativo.
Hecatombe processual que me aconchega.
Olho para o espelho daquele livro e o monstro sorri…

Estou mesmo aqui…dentro.
Despi-me do corpo, tirei a alma e deitei-me…
…em casa de mim.

Sem comentários: