Photo by Alice atrás do Espelho
Naquela República todos viviam conforme as regras. O sistema rolava sobre umas rodas desdentadas, cuja engrenagem era oleada por regentes industrializados e cegos cientistas. Ninguém mijava fora do penico. Todos o faziam em uníssono e em locais apropriados, até porque a multa era alta e o preço nem sempre se conseguia pagar. A vida naquela República era pacata, sem grandes atribulações e ninguém se atrevia a quebrar nenhuma das Grandes regras.
Durante o dia, todos estavam destinados a tarefas apaziguadoras e repetitivas, nada se perdia dentro da azáfama consumista. A polícia espectral espiava a cada esquina, esperando que o próximo Bandido Nefelibata surgisse com as mãos cheias de esperanças, para os neutralizar. Os Delatores Reluzentes escondiam-se em luzes de candeeiros programados, tentando assim detectar os possíveis escapistas do sistema. Embora a segurança fosse constrita, era algo necessário para o Grande Bem de todos. “O trabalho é para ser feito com o corpo todo”, diziam os cartazes de propaganda espalhados pelas ruas. Ideias de pensadores cansados aproveitadas por criativos comerciais, que depois de digeridas eram esboçadas em esquiços de anúncios diários, para todos as consumirem. E ao som de uma música compassada tudo trabalhava maquinalmente, debaixo daquela orquestra formiguenta.
Durante a noite e sem luzes de néon todos se encolhiam em suas casas, para um descanso escurecido. Havia quem treinasse as suas perícias laborais à meia-luz de velhas velas, suando o cansaço do dia e fustigando a carne de pensamentos perniciosos. Mas, o entretenimento preferido e permitido naquela República era o jogo das Quadraturas, onde se tentava encaixar um círculo em moldes de madeira quadrados. Servia tanto para adultos como para crianças desaustinadas. O ritmo da noite era constante, chegando a hora Fatal não havia ninguém que não colocasse em suas têmporas, os adesivos redondos cheios de fios. Adesivos fornecidos pela República todos os meses, que sugavam durante o repouso, os sonhos individuais devolvendo às cabecitas ocas sonhos colectivos. Serviam de controlo do tráfego onírico e transformava-os em imagens formatadas, zelando assim, pelo sono de todos.
Alisa deixou cair o saco das ferramentas, no chão da entrada, incomodando o tecto da rabugenta vizinha e despiu a farda de lona. Depois de um árduo trabalho igual a muitos outros, o único que lhe apetecia era um longo banho, mas apenas tinha um molho de fichas higiénicas de cinco minutos e tinha de as racionar para o resto da semana. Abriu a rugosa porta do armário e tirou o comprimido da 5ª feira, era verde – dia de legumes concentrados – e atirou-o para dentro de uma panela. Entrou no cubículo de higienização metalizado, a ficha caiu na ranhura e uma massagem aquática começou a relaxar os músculos tensos. Vestiu a farda de dormir e sentou-se num banco a saborear o manjar verde. Todos os dias a rotina era sempre a mesma, comer, arrumar, lavar e engraxar as botas, não seria hoje que o seu quotidiano mudaria. Estendeu a farda de lona, arrumou as ferramentas na sacola e foi-se deitar.
A lua cobriu-se de negro. Estava alta e empoleirada no seu trono – o céu – largou o véu sobre as estrelas que tilintavam em luzes fugidias, deixando-as atarantadamente apaixonadas. No denso quarto de Alisa, umas linhas azuladas expressavam-se, faíscas intermitentes dançavam penduradas entre os fios condutores de sonhos. Fusíveis queimados caiam para o chão e derrapando nos buracos da madeira, trocavam galhardetes com a máquina partida. Naquela noite Alisa sonhou. Sonhos só dela sem ruídos ou interferências de terceiros. Abandonou todas as imagens formatadas e entregou-se à profunda escuridão que nunca conhecera. Viu mundos, viveu amores, chorou alegrias e cantou a desesperos perdidos; sentiu os desencontros íntimos que sempre a aconchegaram, mesmo quando ela não os viu. Beijou a morte, abraçou solidões paradas na teia das suas células, enterneceu incertezas e sorriu em confusas aventuras desenhadas em sua alma. Nessa noite, as tintas dos seus sonhos pintaram quadros de texturas quentes e alucinou dentro do seu corpo, deixando marcas inquebráveis em sua memória.
Pontualmente o sol acordou e como qualquer outra manhã, Alisa preparou-se para o cinzento trabalho. A propaganda matinal acompanhou o pequeno-almoço, “O trabalho é a dimensão única que comanda todo o Universo”, calçou as botas e arrumou a loiça. Mas, Alisa reparou que o seu dormente corpo se insinuava a uma nova música, sons que só ela ouvia e cantarolava baixinho dentro de si. Havia algo nela que estava diferente, que mudara durante a noite. O silêncio morto tinha desaparecido e um outro silêncio alojara-se em sua carne. Era mais colorido, brincalhão e sábio, era o silêncio da sua presença. Tentou recompor-se e disfarçar, saiu de casa com a sacola às costas e entrou na marcha quotidiana de um sistema metódico e espartano.
Ao final da tarde, Alisa chegou a casa atirou com a sacola de ferramentas, despiu-se da pesada farda e repetiu tudo o que sempre fizera ordenadamente – tomar banho, comer, arrumar, lavar e engraxar as botas – mas agora, as tarefas tinham o seu próprio compasso e ritmo, pois ali dentro a música era outra, podia soltar-se.
Ao deitar, Alisa notou que os fios condutores estavam todos queimados e percebeu então o que lhe acontecera. Sorriu numa gargalhada retumbante, porque sabia o que a esperava. E durante uma semana Alisa teve uma vida dupla, o parco cinzentismo dominava durante o dia e à noite podia visitar qualquer um dos seus mundos, sem guia turístico a estorvar ou escrutinadores indesejáveis a espreitar. Escondia-se de dia para escavar-se de noite. Durante uma semana Alisa infringiu gravemente contra a República, foi feliz. Uma arrojada sonhadora de ideias ambulantes que abriu espaço dentro de si para explorar sentimentos pendurados, em tendões doridos. Mas o mês ia acabando e a polícia decidiu bater a porta de Alisa numa 6ª feira solarenga.
- Boa tarde menina.
- Boa tarde. O que desejam?
- Viemos para a inspecção mensal.
- Ah…não é necessário aqui está tudo em ordem. – Alisa meio entalada na ombreira da porta.
- Calculo que sim, pois assim a República o deseja, mas teremos de passar uma vistoria na mesma – um dos polícias empurrou a porta numa entrada forçada – e sabe como é, ordens são para se cumprir e caso contrario o calabouço é nosso amigo.
- Tudo bem, façam o favor de entrar. – Enquanto pensava numa maneira de esconder os fios condutores queimados – Estava no meu banho diário, se não se importarem dão licença que me vá vestir a meu quarto?
- Com certeza menina. Tem 10 minutos.
Alisa recolheu-se à privacidade do seu quarto, vestiu a farda de andar por casa e tentou esconder os fios condutores danificados debaixo do colchão da larga cama, esperando que nenhum dos policias os puxassem para verificar o seu queimado estado.
- Desculpem a demora, mas tive de secar um pouco o cabelo. – Abrindo a porta do quarto.
- Não tem qualquer tipo de problema menina. Por aqui está tudo dentro das Grandes regras, não tem nada nestas divisões, que nos conduzam a actividades ilícitas. Só falta então o seu quarto para verificarmos a máquina Onírica. – E o polícia espadaúdo efectuo novamente uma entrada forçada, desta vez no quarto de Alisa.
Os dois agentes de autoridade escrutinaram a divisão com olhos de lince, à procura de qualquer coisa que os alimentasse naquela tarde. Tinham fome. Urgência em exercer a ordem republicana, que tanto trabalho lhes deu a aprender. Qualquer pretexto servia para embirrar, mas um dos agentes sem querer puxou demais os fios condutores e depararam-se com uma surpresa desejada. Sorriram. Sorriram maliciosamente. Tinham sede de violência sem razão e precisavam de saciá-la antes que o dia acabasse.
- A menina vai ter de nos acompanhar.
- Eu não fiz nada. Só reparei nisso agora que os senhores agentes puxaram os fios. Nunca mexo nessas coisas, pois sei que não é permitido. – Alisa tentando fazer-se de desentendida.
- Pois nós entendemos a sua situação, mas os fios estavam escondidos debaixo do seu colchão, o que prova que alguém empurrou para lá. E se mais ninguém entra nesta casa…entenda-me só pode ter sido a menina.
- Vai ter que se explicar e acabou o assunto! – Gritou o outro agente mais austero.
Alisa sem explicação possível para o que inevitavelmente lhe aconteceu e sem querer desfazer-se do que já tinha construído em si, tenta fugir dos agentes. Em micro segundos Alisa ganha uma nova consciência. Apercebendo-se do que perdera todos os dias que trabalhava no mundo cinzento da ditadora República, luta pela libertação do seu poder onírico. Os agentes, treinados em golpes baixos e esquemas sacristas, apanharam-na entre o banco da ténue cozinha e a porta da rua.
- O que esconde debaixo de si? - Agarrando Alisa pelo pescoço, contra a palpitante parede – São esperanças? Ideias ou sonhos? Qualquer um deles é nocivo para a República!
- Estou-me a borrifar para a nojenta República! – Esboçava Alisa entre dentes cerrados.
- Vá diga! Ou espancamo-la em pedaços!
Num trovejar das suas forças, Alisa empurra os agentes para o chão, corre para o meio da rua, berrando para que todos ouvissem, “Eu não abandono os meus sonhos”. Mas, os agentes esmurram-na com sede, com fome e pujança nos dedos desejosos por pura destruição. Engolfada em sangue da resistência, Alisa apara os golpes traidores com o corpo de uma dignidade reencontrada. Fecha os olhos agarrada às nuvens viscerais e lentamente a vitalidade seca esvai-se em fumos de sólidas certezas, a morte é mais um delírio na sua recente panóplia de imagens. Numa última cuspidela de suspiro, Alisa sente os alicerces da sua essência, pois debaixo de si ela esconde os seus Sonhos.
E tu o que escondes debaixo de ti…?!
Durante o dia, todos estavam destinados a tarefas apaziguadoras e repetitivas, nada se perdia dentro da azáfama consumista. A polícia espectral espiava a cada esquina, esperando que o próximo Bandido Nefelibata surgisse com as mãos cheias de esperanças, para os neutralizar. Os Delatores Reluzentes escondiam-se em luzes de candeeiros programados, tentando assim detectar os possíveis escapistas do sistema. Embora a segurança fosse constrita, era algo necessário para o Grande Bem de todos. “O trabalho é para ser feito com o corpo todo”, diziam os cartazes de propaganda espalhados pelas ruas. Ideias de pensadores cansados aproveitadas por criativos comerciais, que depois de digeridas eram esboçadas em esquiços de anúncios diários, para todos as consumirem. E ao som de uma música compassada tudo trabalhava maquinalmente, debaixo daquela orquestra formiguenta.
Durante a noite e sem luzes de néon todos se encolhiam em suas casas, para um descanso escurecido. Havia quem treinasse as suas perícias laborais à meia-luz de velhas velas, suando o cansaço do dia e fustigando a carne de pensamentos perniciosos. Mas, o entretenimento preferido e permitido naquela República era o jogo das Quadraturas, onde se tentava encaixar um círculo em moldes de madeira quadrados. Servia tanto para adultos como para crianças desaustinadas. O ritmo da noite era constante, chegando a hora Fatal não havia ninguém que não colocasse em suas têmporas, os adesivos redondos cheios de fios. Adesivos fornecidos pela República todos os meses, que sugavam durante o repouso, os sonhos individuais devolvendo às cabecitas ocas sonhos colectivos. Serviam de controlo do tráfego onírico e transformava-os em imagens formatadas, zelando assim, pelo sono de todos.
Alisa deixou cair o saco das ferramentas, no chão da entrada, incomodando o tecto da rabugenta vizinha e despiu a farda de lona. Depois de um árduo trabalho igual a muitos outros, o único que lhe apetecia era um longo banho, mas apenas tinha um molho de fichas higiénicas de cinco minutos e tinha de as racionar para o resto da semana. Abriu a rugosa porta do armário e tirou o comprimido da 5ª feira, era verde – dia de legumes concentrados – e atirou-o para dentro de uma panela. Entrou no cubículo de higienização metalizado, a ficha caiu na ranhura e uma massagem aquática começou a relaxar os músculos tensos. Vestiu a farda de dormir e sentou-se num banco a saborear o manjar verde. Todos os dias a rotina era sempre a mesma, comer, arrumar, lavar e engraxar as botas, não seria hoje que o seu quotidiano mudaria. Estendeu a farda de lona, arrumou as ferramentas na sacola e foi-se deitar.
A lua cobriu-se de negro. Estava alta e empoleirada no seu trono – o céu – largou o véu sobre as estrelas que tilintavam em luzes fugidias, deixando-as atarantadamente apaixonadas. No denso quarto de Alisa, umas linhas azuladas expressavam-se, faíscas intermitentes dançavam penduradas entre os fios condutores de sonhos. Fusíveis queimados caiam para o chão e derrapando nos buracos da madeira, trocavam galhardetes com a máquina partida. Naquela noite Alisa sonhou. Sonhos só dela sem ruídos ou interferências de terceiros. Abandonou todas as imagens formatadas e entregou-se à profunda escuridão que nunca conhecera. Viu mundos, viveu amores, chorou alegrias e cantou a desesperos perdidos; sentiu os desencontros íntimos que sempre a aconchegaram, mesmo quando ela não os viu. Beijou a morte, abraçou solidões paradas na teia das suas células, enterneceu incertezas e sorriu em confusas aventuras desenhadas em sua alma. Nessa noite, as tintas dos seus sonhos pintaram quadros de texturas quentes e alucinou dentro do seu corpo, deixando marcas inquebráveis em sua memória.
Pontualmente o sol acordou e como qualquer outra manhã, Alisa preparou-se para o cinzento trabalho. A propaganda matinal acompanhou o pequeno-almoço, “O trabalho é a dimensão única que comanda todo o Universo”, calçou as botas e arrumou a loiça. Mas, Alisa reparou que o seu dormente corpo se insinuava a uma nova música, sons que só ela ouvia e cantarolava baixinho dentro de si. Havia algo nela que estava diferente, que mudara durante a noite. O silêncio morto tinha desaparecido e um outro silêncio alojara-se em sua carne. Era mais colorido, brincalhão e sábio, era o silêncio da sua presença. Tentou recompor-se e disfarçar, saiu de casa com a sacola às costas e entrou na marcha quotidiana de um sistema metódico e espartano.
Ao final da tarde, Alisa chegou a casa atirou com a sacola de ferramentas, despiu-se da pesada farda e repetiu tudo o que sempre fizera ordenadamente – tomar banho, comer, arrumar, lavar e engraxar as botas – mas agora, as tarefas tinham o seu próprio compasso e ritmo, pois ali dentro a música era outra, podia soltar-se.
Ao deitar, Alisa notou que os fios condutores estavam todos queimados e percebeu então o que lhe acontecera. Sorriu numa gargalhada retumbante, porque sabia o que a esperava. E durante uma semana Alisa teve uma vida dupla, o parco cinzentismo dominava durante o dia e à noite podia visitar qualquer um dos seus mundos, sem guia turístico a estorvar ou escrutinadores indesejáveis a espreitar. Escondia-se de dia para escavar-se de noite. Durante uma semana Alisa infringiu gravemente contra a República, foi feliz. Uma arrojada sonhadora de ideias ambulantes que abriu espaço dentro de si para explorar sentimentos pendurados, em tendões doridos. Mas o mês ia acabando e a polícia decidiu bater a porta de Alisa numa 6ª feira solarenga.
- Boa tarde menina.
- Boa tarde. O que desejam?
- Viemos para a inspecção mensal.
- Ah…não é necessário aqui está tudo em ordem. – Alisa meio entalada na ombreira da porta.
- Calculo que sim, pois assim a República o deseja, mas teremos de passar uma vistoria na mesma – um dos polícias empurrou a porta numa entrada forçada – e sabe como é, ordens são para se cumprir e caso contrario o calabouço é nosso amigo.
- Tudo bem, façam o favor de entrar. – Enquanto pensava numa maneira de esconder os fios condutores queimados – Estava no meu banho diário, se não se importarem dão licença que me vá vestir a meu quarto?
- Com certeza menina. Tem 10 minutos.
Alisa recolheu-se à privacidade do seu quarto, vestiu a farda de andar por casa e tentou esconder os fios condutores danificados debaixo do colchão da larga cama, esperando que nenhum dos policias os puxassem para verificar o seu queimado estado.
- Desculpem a demora, mas tive de secar um pouco o cabelo. – Abrindo a porta do quarto.
- Não tem qualquer tipo de problema menina. Por aqui está tudo dentro das Grandes regras, não tem nada nestas divisões, que nos conduzam a actividades ilícitas. Só falta então o seu quarto para verificarmos a máquina Onírica. – E o polícia espadaúdo efectuo novamente uma entrada forçada, desta vez no quarto de Alisa.
Os dois agentes de autoridade escrutinaram a divisão com olhos de lince, à procura de qualquer coisa que os alimentasse naquela tarde. Tinham fome. Urgência em exercer a ordem republicana, que tanto trabalho lhes deu a aprender. Qualquer pretexto servia para embirrar, mas um dos agentes sem querer puxou demais os fios condutores e depararam-se com uma surpresa desejada. Sorriram. Sorriram maliciosamente. Tinham sede de violência sem razão e precisavam de saciá-la antes que o dia acabasse.
- A menina vai ter de nos acompanhar.
- Eu não fiz nada. Só reparei nisso agora que os senhores agentes puxaram os fios. Nunca mexo nessas coisas, pois sei que não é permitido. – Alisa tentando fazer-se de desentendida.
- Pois nós entendemos a sua situação, mas os fios estavam escondidos debaixo do seu colchão, o que prova que alguém empurrou para lá. E se mais ninguém entra nesta casa…entenda-me só pode ter sido a menina.
- Vai ter que se explicar e acabou o assunto! – Gritou o outro agente mais austero.
Alisa sem explicação possível para o que inevitavelmente lhe aconteceu e sem querer desfazer-se do que já tinha construído em si, tenta fugir dos agentes. Em micro segundos Alisa ganha uma nova consciência. Apercebendo-se do que perdera todos os dias que trabalhava no mundo cinzento da ditadora República, luta pela libertação do seu poder onírico. Os agentes, treinados em golpes baixos e esquemas sacristas, apanharam-na entre o banco da ténue cozinha e a porta da rua.
- O que esconde debaixo de si? - Agarrando Alisa pelo pescoço, contra a palpitante parede – São esperanças? Ideias ou sonhos? Qualquer um deles é nocivo para a República!
- Estou-me a borrifar para a nojenta República! – Esboçava Alisa entre dentes cerrados.
- Vá diga! Ou espancamo-la em pedaços!
Num trovejar das suas forças, Alisa empurra os agentes para o chão, corre para o meio da rua, berrando para que todos ouvissem, “Eu não abandono os meus sonhos”. Mas, os agentes esmurram-na com sede, com fome e pujança nos dedos desejosos por pura destruição. Engolfada em sangue da resistência, Alisa apara os golpes traidores com o corpo de uma dignidade reencontrada. Fecha os olhos agarrada às nuvens viscerais e lentamente a vitalidade seca esvai-se em fumos de sólidas certezas, a morte é mais um delírio na sua recente panóplia de imagens. Numa última cuspidela de suspiro, Alisa sente os alicerces da sua essência, pois debaixo de si ela esconde os seus Sonhos.
E tu o que escondes debaixo de ti…?!
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